26.3.07





Esticadores, registros e outros seres rasteiros

Por acaso nos dá a impressão de ser discreto tudo aquilo que nos chama a atenção? Por acaso o usual dá sempre a impressão de usualidade? - Wittgenstein


Vejo a figura humana em sua ausência. Esticadores de poste como além-homens de Nietzsche, tensionados sobre o abismo; e jaulas do registro trancando a cada vez mais preciosa fera: água pura.

Símbolos de uma solidão cheia/vazia de sentidos, coisas que estão sempre ali… Que mistério! Esses seres-objetos não deveriam desaparecer do mundo por não mais os notarmos? Não deveriam sair andando quando mudamos nosso campo visual?

A gravura com luz do pixel do monitor: minha câmara escura, pinhole digital e ampliador é a tela do computador – pixelgrafia.

E o traço tátil da foto-ferida, da ponta aguda - transformar o que é absolutamente reprodutível e virtual (a foto digital) em objetos de aura única (superfícies tacto-visuais).

Várias gerações imagéticas se sucedem, onde a imagem/luz vai de camada em camada, de cópia à matriz na tela plana, ora guardando, ora perdendo suas sombras e luminosidade: isso é foto ou gravura?

A pergunta só tem sentido para o olho que risca e para mão que colhe.

Caixa-pretas. Mundo dentro de programas prontos para aparelhos manipulados por funcionários. Filosofia da Caixa Preta. Flusser.

R.B.U.

porto alegre – outono - 2007

Agradecimentos:

Sol, Igor, Dirce, Bruce, Benedyct, Marisa, Ronaldo, Mary, família e demais amigos.

16.3.07














arde cidade

artur costa – camila schenkel – rodrigo uriartt – sol casal

projeto de ocupação subterrâneo-superfície-aéreo

Galeria do DMAE – Edital 2007

Proposta Conceitual

Habitat urbano sitiado pelo incremente aquecimento global:

os seres bípedes surtam entre o tecnológico e o primitivo

- constroem ruas, redes, fios, guias, canos, subterrâneos e iluminação pública

- deixam rastros e pontos de poder.

O projeto Arde Cidade propõe-se a uma reflexão, entre o visível e o mental, sobre os problemas e sentidos da atualidade, tentando decifrar essa linguagem viva que brota das grandes aglomerações humanas. Ocupando os espaços da galeria do DMAE e seu entorno, vem criar um cenário vivo para propiciar uma integração com o expectador, não mais de uma maneira passiva, mas com seu toque e interação no espaço multidimensionado.

4 artistas utilizando mídias distintas, inventando/invertendo as relações entre as almas urbanas e as vias tentaculares. Captando e reenviando, com a interação do público ativo, signos, linguagens e diálogos entre o ruído e a novidade.

Descrição do Projeto

A exposição Arde Cidade tem como intenção ocupar todos os espaços da Galeria do DMAE, distribuídos da seguinte maneira:

- Entrada da Galeria: escultura e instalação (artistas: Sol Casal e Camila Schenkel)

- Primeira Ala: grande tira de fotos urbanas (Rodrigo Uriartt) e instalação ao fundo (Artur Costa)

- Segunda Ala: escultura e instalação (Sol Casal), pintura encáustica (Rodrigo) Fotos (Camila)

- Terceira Ala: fotos e instalações dos 4 artistas.

- Parede do Fundo: projeção multimídia de trabalhos de vídeo arte.

Está prevista intervenções temporárias na área externa, no parque próximo à entrada da galeria, com estandartes e esculturas efêmeras. Ocorrerá também uma breve performance, usando o tema do aquecimento global em relação aos contatos entre as pessoas.

Os 4 artistas

Artur Costa, 28, porto-alegrense, psicólogo e videomaker. Participou da exposição multimídia Algonauta, no Planetário de Porto Alegre (julho de 2003). Desenvolve trabalhos em vídeo com o referencial deleuziano e esquizoanálise e instalações com poéticas urbanas.

Camila Schenkel, 24, porto-alegrense, formada pelo Instituto de Artes da UFRGS em Fotografia, desenvolve trabalhos também com forte temática urbana, com a noção de séries e objetos cotidianos. Foi recentemente premiada com o primeiro lugar no último Salão do Jovem Artista.

Rodrigo Uriartt, 40, porto-alegrense, fotógrafo e gravurista. Cursando o último semestre no Instituto de Artes. Pretende mostrar sua série de fotos de equipamentos urbanos, realizados na técnica desenvolvida pelo mesmo, de fotos em preto e branco realizadas diretamente da tela do computador para o papel fotográfico.

Sol Casal, 23, argentina, desenvolve trabalhos nas mídias da escultura, instalação e pintura. Seu universo simbólico é marcado por uma forte temática antropomórfica e pela busca de uma sensorialidade amplificada e imersiva. Cursando o último ano do Instituto de Artes, ênfase Pintura, trará obras de caráter escultórico, instalações.



Segundo Benjamin, Valéry via a civilização como síndrome, e acreditava que o homem dos grandes centros urbanos se aproximava de seu estado de selvageria, de isolamento. A necessidade do outro foi perdendo lugar para a tecnologia, que distancia as pessoas e suas vivências, ainda que aproxime os beneficiários da mecanização

O que temos aqui é o enfraquecimento da experiência. O homem progressivamente foi deixando de experimentar a vida por ter alguém (ou alguma coisa) para fazer por ele. Ocorre um distanciamento de elementos intrínsecos à condição humana e sua relação com o meio. A vivência, os sentidos, as aquisições adquiridas através da experiência, representados pela figura do transeunte está perdendo lugar para uma memorização de esquemas, usada pelo flâneur.

In: CIDADES REVERSÍVEIS: CAMINHOS URBANOS EM BENJAMIN, GUATTARI E JANICE CAIAFA. Laura Zuniga. Revista Garrafa, edição N° 6 maio-agosto 2005.

A experiência do espaço urbano tem que, de alguma forma, ser repensada e redimensionada. Nesses tempos de violência gratuita e de grandes transformações climáticas, causadas pelo desequilíbrio ecológico das ações humanas; a arte e seus questionamentos impulsionam as reflexões e novos posicionamentos, que vem de encontro às pulsões do inconsciente coletivo e a mudanças de paradigmas, para assim criar esse espaço renovado onde o homem reencontra o sentido perdido na selva dos significados.

Porto Alegre, março de 2007.